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sábado, 16 de outubro de 2010

O CONTEXTO DA ALVENARIA NA ARQUITECTURA MODERNA

SUMÁRIO


O homem sempre necessitou de se proteger de uma natureza que sempre lhe foi e é adversa.
Começou por fazê-lo com recurso ao que a própria natureza lhe podia oferecer – covas,
depressões no terreno e grutas foram o seu primeiro refúgio, mas também o reconhecimento da
sua dependência e da sua incapacidade em a dominar.
Talvez insatisfeito com as condições que aqueles primeiros refúgios lhe proporcionavam e
convicto da necessidade em afirmar a sua supremacia sobre a natureza descobriu o muro e a
possibilidade que este lhe oferecia, não só de protecção mas também, e fundamentalmente, se
separação. Percebeu então que podia existir um dentro e um fora, um interior, limitado
delimitação protegido, e um exterior, imenso e adverso.

Mas dispor as pedras de modo a constituírem um muro implicou, não só a descoberta de um
sentido no modo de as colocar, mas também o reconhecimento do espaço e a tomada de
consciência dos seus limites.
Colocar a primeira pedra sobre o solo não representou mais do que a expressão do domínio do
homem sobre um território. Colocar a segunda pedra significa já muito mais, pois trata-se de
um gesto com um sentido e pleno de intenção – um gesto que, em definitivo, marca o começo
 explicavam assim o seu aparecimento.

Não deixa de ser curioso que um arquitecto como Mies Van der Rohe venha posteriormente,

nos anos 20 do século XX, afirmar que a arquitectura só verdadeiramente começa depois de se
colocar um tijolo no seguimento de outro, já que um tijolo por si só nada significa porque não é
mais do que um pedaço de matéria, pelo que o que realmente importa é o modo como esse
tijolo se dispõe relativamente ao que o antecede.


Esta necessidade ou dependência de um sentido continua ainda a ser o verdadeiro e único
motivo da arquitectura. Mas, por outro lado, o muro representou também um desafio ao


engenho do homem, já que resulta da agregação de pedras soltas num elemento que necessita
de ser coeso e estável – começa por ser baixo, espesso e pesado. Isto pressupõe o domínio da
matéria e o conhecimento de técnicas que permitam a sua manipulação.

É por isso que a construção não pode dissociar-se da génese da própria arquitectura, pelo
menos no que se refere à sua expressão física e às técnicas que a tornam possível. Não existe
arquitectura sem construção nem tão pouco a construção por si só consegue ser arquitectura.


Foi com toda a naturalidade, já que o artificial é o “natural” do homem, que depois da criação
do muro percebeu que precisava de lhe introduzir uma abertura, uma interrupção ou um
intervalo, que lhe permitisse entrar, mas também sair. A partir daí a sucessão de elementos
construtivos, que em arquitectura também são compositivos, não tem cessado – janelas, portas,
coberturas, divisórias, pavimentos, etc, vão-se definindo em função das necessidades espaciais
do homem, no sentido de este se adaptar e tirar partido das condições do lugar que habita. Tudo
se torna mais complexo na medida dessa evolução, não só em termos físicos mas também no
que se refere ao significado das coisas.


Creio que o problema hoje continua a ser o mesmo de sempre. O confronto com a natureza, a
artificialidade que implica a sobrevivência, continuam a constituir acima de tudo um combate
que o homem trava consigo próprio, num esforço constante de se superar a si mesmo.
É por isso que a sofisticação tecnológica de que dispomos e que é consequente com o nosso
tempo, aliás como sempre aconteceu ao longo da História, interesse fundamentalmente
enquanto possibilidade de nos aproximarmos mais da essência das coisas e do significado que
lhes queremos atribuir.


A espessura com que se constrói um espaço, para além do espaço em si mesmo, é determinante
no reconhecimento dos seus limites e na compreensão da sua escala.
Se no passado os espaços eram configurados por grandes espessuras porque a gravidade assim
o exigia, a verdade é que também se ambicionava que assim não fosse e que a linha de
separação entre duas entidades, ou entre duas realidades, fosse o mais ténue possível. Hoje,
pelo contrário, essa espessura tende a ser cada vez menor, a ser quase fisicamente
imperceptível, até se tornar no limite em si mesmo, sem gravidade e numa concentração de
complexidade extrema.
Mas como a gravidade é incontornável, continuaremos dependentes das muitas espessuras que
são necessárias à construção de um espaço, oscilando entre a tectónica da terra e a infinita
fluidez do céu.
Sejamos então capazes de insuflar vida na matéria inerte, tornando as pedras, ou o que quer que
seja, significantes …
 
 
Materia: arquitecto João Álvaro Rocha

Arquitectos Maia......// meu muito obrigado.